segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Encontro dos Bispos da África Autral em Pretória - África do Sul

IMBISA  : Associação Inter-regional dos bispos da África Austral

Nos dias 6 a 13 de Dezembro de 2010, reuniram-se em Pretória, na África 
do Sul, 56 Bispos, provenientes da Angola, Moçambique, África do Sul, Zimbabwe, Namíbia e Lesoto.
É a nona Assembleia ordinária ( se reúne cada três anos) e tratou os 
temas de “ Ética do trabalho para a promoção da auto-estima”
                  “ Boa governação”
                   “ Desenvolvimento sustentável na África Austral”.

Estes temas dão seguimento aos Encontros da IMBISA  nos anos passados: 
em 2004 (Harare)foi tratado o tema do Auto sustentabilidade.
 em 2007 (Luanda)foi tratado o tema da Boa governação para o
                  desenvolvimento. 
Em ambas as ocasiões foram tomadas decisões que, em forma de cascatas, foram abrangentes até serem implementadas nas nossas pequenas comunidades cristãs.
Ambos os temas, indicavam a necessidade de a Igreja e suas comunidades alimentarem o desejo de trabalharem para elas mesmas no sentido de serem autosustentáveis  ( Plenária 2004) e torná-las modelo na maneira como encarar o trabalho e como esperam que os outros o encarem ( Plenária 2007), por outras palavras, tendo uma Boa Ética no trabalho.
Será que nós na Igreja atribuímos um valor ético ao trabalho?
Como Igreja na Região Austral de África promovemos uma boa ética do trabalho nas nossas comunidades que, por muitos anos, foram colonizadas e ,depois, marginalizadas, por sucessivos governos depois da Independências?
Na Assembleia Plenária deste ano 2010, reflectimos sobre este ponto: A BOA ÉTICA NO TRABALHO como resultado do que foi discutido nos anteriores plenários. 
Historicamente, o trabalho foi visto sob diversos pontos de vista. Muitos estudos foram produzidos e muitas ideias foram trocadas.
Já na Bíblia, depois de Adão e Eva terem desobedecido ao comando de Deus, encontra-se, no trabalho, um caminho de redenção: trabalho visto como purificação, como sofrimento, como dor.
No tempo da escravidão perpetuou-se a ideia de que o trabalho era um castigo de Deus para o mal, feito pelo homem ao longo da história.
Entretanto, algumas correntes filosóficas do Século XIX, descobrem a dignidade do trabalho na aurora da revolução industrial na Inglaterra e na Europa. O trabalho é visto como promoção da dignidade do trabalhador e um bem para a pessoa e sua presença na sociedade.
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Esta corrente positiva sobre o valor e a bondade do trabalho, foram adversadas pelas correntes americanas, australianas, calvinistas, holandesas e pelos boers na África do Sul.
Veio depois o comunismo, o socialismo e os movimentos da assim chamada esquerda: estes movimentos, entre tantas coisas negativas, trouxeram, de facto,  realidades novas e positivas acerca da dignidade do trabalho humano. As correntes católicas e democratas apoiaram este movimento e a Igreja saiu das sacristias e lançou-se decididamente no meio do povo operário, defendendo os direitos dos trabalhadores e promovendo a justiça social e a promoção das classes mais pobres da sociedade.
Aqui na África Austral tivemos a triste experiência do colonialismo.
O colonialismo, mediante o trabalho dos colonizados, perpetuou a ideia do trabalho como marginalização, exploração, humilhação, domínio e opressão. As guerras de libertação nos diferentes Estados hoje independentes, foi também motivada pelas injustiças no tratamento das pessoas colonizadas.
Ainda hoje, no tempo da Independência, as ideias de o trabalho ser considerado como humilhação, marginalização, opressão e castigo não morreram. As nossas sociedades sofrem por estas mentalidades opressoras.
Nos dias 7 e 8 de Dezembro desta Assembleia Plenária em Pretória, foram tratados os temas da “ A Ética do trabalho no período pós-colonial” e “ Boa Ética do trabalho e Boa Governação” com esclarecimentos, comentários e questões.
A minha primeira impressão, como bispo de Lichinga que participava pela primeira vez, ( Os bispos de Moçambique estavam todos presentes!) foi muito enriquecedora e envolveu-me positivamente e emocionalmente.
À margem dos temas propostos, tomei contacto com a situação das várias conferências episcopais  ( principalmente da do Zimbabwe e a situação do seu povo!) e das situações concretas nas quais vive o povo nesta África Austral( A missa de conclusão foi celebrada na Igreja de Soweto, periferia de Joanesburgo, famosa pela resistência contra o apartheid!)  
Fizemos documentos que irão ser publicados e outros que deverão ser apresentados directamente aos governantes dos diversos países: a Igreja e os seus pastores estão muito preocupados e querem entrar na defesa da liberdade e da paz dos povos no meio dos quais vive. Mediante a Nunciatura apostólica da África do Sul e as Instituições da Igreja, é nosso dever de bispos, tentar envolver os governantes dos países da África Austral na governação dos povos a eles confiados:  para garantir a paz, a justiça e a reconciliação.

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