terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ASSEMBLEIA DIOCESANA



No dia 22 e 23 de Novembro Realizou-se a Assembleia Diocesana
Participaram nela todos os sacerdotes diocesanos e missionários, animadores das paróquias e comunidades, irmãs e alguns membros de comissões Pastorais, esta teve lugar em Cuamba  e presidida pelo Sr. Bispo da Diocese coadjuvado pelo Vigário Geral Pe. Joaquim Lopes.

O Sr. Bispo abriu a assembleia com palavras esclarecedoras para a compreensão de todos os participantes:
Nesta assembleia não vamos mudar nada do que foram as outras assembleias, as bases serão as mesmas mas, sim vamos trabalhar na organização das paróquias, promovendo a formação a todos os níveis, esta formação será feita pelo pároco e comunidades missionárias que trabalham lá.
 Antigamente a formação era feita em alguns centros o que dificultava a participação mais abrangente do povo de Deus, agora queremos que a formação seja nas suas paróquias para chegar a maior número de pessoas. Cada paróquia deve levar a sério esta formação e o tema tem que ser a palavra de Deus, e a Eucaristia; por isso resumindo: a formação será nestas duas vertentes: - Bíblica e a Eucarística.”
D. Elio chamou a atenção também para os temas do grande “ Sínodo Para a África
Disse ainda: “Para a semana estaremos em Maputo na reunião da CEM depois na África do Sul para estudo e aprofundamento do Sínodo e a grande aposta é fazer chegar estes temas a todos os animadores e ao povo de Deus para serem trabalhados e assimilados”.
Continuando a incentivar todos os participantes D. Elio propôs alguns métodos de evangelização assim como, fazer grupos bem preparados para elaborar e realizar subsídios práticos, para assim poderem chegar a todos, e apelou também aos sacerdotes e à equipa missionária para baixar à realidade do povo fazendo subsídios que eles entendam, por isso, cada paróquia deve ter o seu conselho pastoral e começar a trabalhar os temas que lhes são propostos, já traduzidos  nas  suas próprias línguas para que todos possam compreender bem a palavra de Deus. Verificando, que a grande maioria dos crentes só tem o Domingo disponível, D. Elio apelou aos sacerdotes e equipas missionárias que se dediquem de alma e coração nestes dias em que o povo tem mais tempo disponivel para fazerem a formação.
Terminou estas palavras de abertura, deixando o apelo a toda a Assembleia:" temos que caminhar com a Igreja porque ela não está parada ela caminha sempre".

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Viagem apostólica

O Padre Leonardo pároco da Zona do Lago o vai chamar porque está na hora


numa das comunidades proximas D. Elio descansa nesta palhota e retoma forças para a visita


frontaria da Igreja com um lindo azulejo de S. Miguel - Patrono da paróquia de Còbué


     D. Elio prepara-se para a celebração


                                     o povo quer ver a sua Igreja novamente como era e pede ajuda


 

                                                        D. elio visita a Igreja em Ruinas


                                     Celebração ao ar livre por não haver condições na Igreja


D. Elio visita a região do Còbué linda Igreja mas em ruinas, destruida pela guerra civil



quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Caríssimos irmãos
     A viagem apostólica de Metangula… Cobué… Chiuindi…Tanzânia acabou no domingo 24 de Outubro 2010.
O Pe. Joaquim, vigário geral, o Pe. Leonardo, a irmã Alicia e o animador Vicente foram meus companheiros de viagem. O sábado 16 , pelas 14:OO estávamos em Chuanga: nas comunidades celebrávamos as  confissões, a Eucaristia, o Crisma, os baptismos e os casamentos.
No contacto directo com o povo, explicávamos os pontos principais da nossa nova Linha Pastoral escolhida na Assembleia Diocesana em Cuamba: FORMAÇÃO a todos os níveis, COMUNIDADE CRISTÃ e critérios pela sua constituição e como Centro de qualquer formação, a AITOSUSTENTABILIDADE  das comunidades, Paróquias e Diocese.
A nossa viagem inicia na mesma tarde daquele sábado 16: fomos recebidos triunfalmente pela comunidade de Chuanga.
O domingo e a segunda feira nos viram em Metangula, Meluluca, Chia e Ngóo.
Na terça feira celebramos em Cobué sede e, na tarde, em Uchissi e Mbueca: dormimos em Cobué.
Daqui para frente, durante três dias e três noites o lago Niassa foi o nosso amigo de viagem: Ngofi Mtimbe, Londo, Luuchi,Unghi, Chiuindi .
Voltamos a Cobué na noite do dia 22, depois da longa viagem de barco com motor, iniciada em Chiuindi pelas 13.00 e chegada pelas 20.00h.
De dia nos acompanhava o sol e durante a noite a lua cheia: as águas do imenso lago nos acolhiam nos seus braços e nas suas ondas suaves.
Os últimos dois dias foram dedicados a Mechuma e Maniamba.

Jesus ia de aldeia em aldeia e anunciava a Boa Nova do Reino!

O que mais fica gravado no coração, depois desta viagem, é o isolamento destas populações ao norte de Cobué. Não existem estradas: ou se vai a pé ao longo dos caminhos dos vários pequenos montes que se sosseguem  ininterruptamente ( verdadeiros corta-matos para cabritos de monte!)ou, como fez o nosso bom Leonardo, nos acolheu no seu barco e fomos… de etapas em etapas até Chiuindi e de novo, cansadíssimos, até as camas da “residência” em Cobué.
E pensava aos fundadores desta missão-paróquia (os padres Menegon, Camilo, Neves…) que percorriam estas distâncias caminhando e abrigando-se onde podiam: meses de encontros, de catequeses, de celebrações nas misérrimas capelas daquele tempo, os primeiros baptismos, as primeiras comunhões… e os sonhos  destes pioneiros.
Agora há comunidades: algumas verdadeiramente robustas! Há esperanças que florescem, bons grupos de canto (de forte influência Malaiwana ou Tanzaniana), liturgias simples.
Aqui um Macua se sente estrangeiro: as línguas Swahili, Nhanja, Chichewa , se misturam continuamente entre elas: o português aqui não se sente, nem nas crianças que frequentam as nossas escolas comunitárias, nem na liturgia. É um mundo original, fechado no pequeno horizonte da sua terra.
As “machambas” não existem ao longo do lago: cada família tem pouco terreno em volta das casas com pequenas cultivações de mandioca, feijão e pequenas hortaliças. Palhacinhas sobre elevadas, abrigam cabritos, ovelhas e galinhas. Aqui tudo é pequeno: só o lago é imenso. Os campos cultivados são todos nas montanhas e aí se deslocam os habitantes à procura de comida para a família.
O lago oferece o seu peixe! Sempre abundante!
Todos sabem pescar. Nascem com a rede na mão, o anzol e muito cedo apreendem navegar sobre pequenas canoas.
Respirei a fé e a alegria desta gente! É rara a visita de um bispo. Fixei na máquina fotográfica alguns destes rostos e lugares: quero sejam parte viva da minha oração e intercessão. Acabou o tempo de deixar a Paróquia de Cobué sem missionários! O bispo tem que oferecer um padre!
É uma promessa! E um desafio para o futuro do  “povo do lago”. 
Mais uma vez senti dentro de mim o grito do último Sínodo especial para a África: África, levanta-te, caminha!
Aqui mais do que noutras partes, são precisos  pastores missionários de grande coração e de sacrifício: que saibam viver com este povo e saibam anunciar a palavra do Evangelho que salva. Aqui a nossa Diocese deve investir na Formação, nas Escolas e na Saúde
O clima de profundo respeito manifestado pelos chefes muçulmanos e a sincera amizade e partilha com a comunidade anglicana são realidades consoladora.
Deus, nosso Pai, nos reúne e nos convida a viver no seu amor.

Que alegria quando me disseram: vamos para a casa do Senhor! Detiveram-se os nossos passos às tuas portas Jerusalém!
Este foi o canto que saiu dos meus lábios quando, depois de seis horas de viagem, vi o farol de Cobué.
 Experimentei a alegria dos peregrinos hebraicos que, tendo atravessado o deserto, avistavam de longe a cidade santa e o templo do Senhor!

É tempo de retomar o caminho.
 Rezo ao Pai para que fortifique o meu empenho missionário: abra o meu coração a uma renovada oferta de vida.
E me deixe sonhar com todos os cristãos da Diocese de Lichinga: Levanta-te, caminha!

O vosso bispo
Elio Greselin

Lichinga, 27 Outubro 2010
 


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

 Sua Santidade Bento XVI recebe cordialmente D. Elio Bispo de Lichinga no Vaticano

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

D. ELIO

Recebemos correio de D. Elio que sauda toda a Diocese com estas palavras:
"
Tento escrever duas linhas de cumprimentos, depois destes dias de ROMA, do Papa, de Curso internacional para os jovens bispos.
Verifiquei que eu sou o bispo mais velho em idade.
Quando o Papa me recebeu disse-lhe:” porque me fizeram bispo com 70 anos de idade?” Ele sorriu e depois disse-me:” trabalha!, trabalha! Nós sabemos!”.
Estou em obediência e profunda decisão em levar a frente o tarefa de Bispo em Lichinga.
Sei que terei ( e tenho) cruzes mas a minha doação é total. Não volto atrás!.
O curso em Roma foi óptimo, ,seja pelas coisas que nos disseram mas principalmente pela possibilidade de entrar em comunhão com as igrejas de África , de Ásia e Oceânia. Éramos 105 novos bispos dependentes da Propaganda Fide.
Cumprimentos de bom trabalho.
A minha bênção vos acompanha"

domingo, 5 de setembro de 2010

D- ELIO EM ROMA

D. Elio depois de dois meses em visita pastoral às paróquias e comunidades da zona sul da Diocese, chegou à sua residencia no dia 30 de Agosto o qual foi recebido pela equipa missionária da cidade de Lichinga num fraterno convívio, logo fez a despedida e no dia 31 viajou em direcção a Roma para aí participar num curso de Bispos que foram ordenados há menos de 2 anos.


Para D. Elio e todos os Bispos reunidos em Roma, pedimos a luz do Espírito Santo para guiarem as dioceses na Paz e na Concórdia e no anúncio audaz do Reino de Deus.

5 Setembro 2010

sábado, 21 de agosto de 2010

Testemunho do Bispo Missionário, de Lichinga

É simplesmente um testemunho de um Bispo que tenta levar a Palavra mais além, além das suas possibilidades, onde possa existir apenas um cristão!



É em terras moçambicanas que é Pastor de uma Igreja com fracas possibilidades mas com uma vontade enorme de ser Igreja!

Um bispo na "sua"  Visita Pastoral às comunidades cristãs, muçulmanas, anglicanos e muitos curiosos.

O bispo aqui é o bispo de todos.

À chegada encontro à minha frente uma grande comunidade muçulmana, o sacerdote da comunidade anglicana, o seu bispo encontra-se em Maputo!

Venho para ver, observar, viver a comunhão que existe entre as religiões no Niassa em Moçambique.

Eu durmo lá numa casinha reservada para o bispo.

Não existe electricidade, nem linha telefónica, não existe computador nem internet, não há nenhum escritório administrativo, posto policial, nem escola.
Não há água canalizada, (vou buscar água a um furo feito na terra) . Dentro de casa existe um armário de palha e algumas folhas!
 Silêncio total durante a noite.
 A casa do bispo está dentro de uma cerca onde mora famílias cristãs que hospedam, preparam um jantar com legumes, polenta de milho ou mapira, alguns pedaços de frango ou peixe ou pequenos animais que apanham para servir de comida para os hóspedes!
 Depois do jantar eu rezo o terço com eles e faço um pequeno pensamento de boa noite.
Vou para a minha casinha, acendo duas velas e tento escrever algo sobre minha vida hoje.
 Nesta casa tem uma  mesa de bambu, uma cadeira de bambu, uma cama de bambu, um colchão de algodão feito por eles. Eles sabem que o seu bispo escreve e reza e vai para a cama.
Eles, os homens mais idosos dormem na sua esteira perto da varanda e fazem de guarda toda a noite porque não há muito silêncio. Partilho um pouco de tabaco para perfumar e cheirar!

Nasceram aqui, vivem aqui e morrem aqui.

De manhã colocam na porta uma grande tigela de água quente para fazer a minha limpeza (casa de banho, barba, WC).

Partimos para uma comunidade que fica a trinta quilómetros!
Aquela comunidade nunca vira o bispo. Eu apresentei-me com os meus paramentos e roupas solenes; muitos olhos arregalados. Um estranho branco. Mas estou feliz de estar lá para ouvir, ver e sentir.
Todos maravilhosamente atentos, em silêncio, calmos, envoltos em oração (embora alguns sejam pagãos imitam tudo o que fazem os cristãos) Isso é bom. Começamos às oito horas da manhã, e agora são 12:40.
Vamos para almoço preparado pela comunidade.

Eu olho para cima e vejo uma mãe carregando uma trouxa nos braços: dentro está o seu filho de 5 anos: um esqueleto de ossos, dois olhos desproporcionais, leves movimentos dos braços. Ainda se agarra ao ventre de sua mãe.. O leite da mãe reservado para seu filho de quatro meses que leva ligada às costas na parte traseira, serve também para o de 5 anos.
Vemos que há um desejo louco de viver. Eu pego em meus braços, pesa cerca de sete quilos. Mãe e filho estão na missão, a Irmã os acolhe e começa a recuperação. A Irmã trabalha no Centro de Nutrição da missão. É brasileira e faz o que pode: ensina a usar ervas que ela conhece, o açúcar, alimentos para bebés, tonificação: tanto para a criança como para a mãe por conversas prepara-a para o pior.

Passados dois meses, faço uma avaliação das minhas viagens. A minha diocese é tão grande quanto quase metade da toda a Itália!
Diocese de Lichinga, rica pelo Lago Niassa, brilhante beleza de Deus criador. O segundo maior lago de África!
 Possuí também a maior reserva de caça em Moçambique: 60 mil quilómetros quadrados!
Os elefantes, inimigos do povo, destroem as suas casas, comem o pouco que o povo cultiva, a gente foge e procura outra terra para poder recomeçar e sobreviver!

Os macacos jogam futebol com os miúdos! Eu não podia acreditar, mas eu vi diante dos meus olhos.
Num quintal, com uma porta feita de varas de bambu, os macacos desobedientes e arrogantes, apanham a bola com a mão e depositam-na na baliza. Golo!
 Eles dançavam, os infelizes, em frente aos miúdos a quem eu já me tinha afeiçoado. Entre eles, vejo um menino ainda frágil, mas inteligente, esvoaçante e por detrás se aproxima de mim, eu dou a minha mão e ele beija o anel e foge.
Quem era, perguntei eu. "Lembra-se do saco de ossos que mamou nos seios de sua mãe há dois meses?".
Incrível! Jogava futebol descalço com os macacos e reconheceu-me! O amor da Irmã, os  medicamentos e as ervas tinham lhe restituído a vida!
Ela é pioneira da minha escolha para a fundação de um “Centro de Alimentação" para os casos sem esperança. Ela já lá está há 14 anos. Estão as Irmãs e algumas voluntárias (sempre mulheres!) que trazem à vida. Uma nova ressurreição. Uma vida que vale a pena em todo o mundo.
É sempre a mulher, dedicada, voluntária, forte, que dá a vida.
A descoberta que foi fazendo ao longo da minha experiência de quarenta anos de África é a certeza de que a mulher vai salvar a África.
Os homens, certamente não!

O futuro de África é a mulher: feminista sem degradar, sem conferências desnecessárias a nível continental: a mulher deve aplicar a sua maneira de ser mulher, mãe e esposa.
Tenho na minha mesa uma fotografia de uma mulher amamentando seu bebé de um lado, e do outro lado um macaco bebé abandonado pela sua mãe!
Somente as pessoas pobres vivem com tanta generosidade! Desgraçado o ser humano que não sabe ser sempre assim "É somente quem é verdadeiramente rico (de Amor e de sentimentos) faz isto!
Perfeita imagem de Cristo que é oferecida a todos por tudo!

Volto para casa e agora visito as crianças da "Casa do Sorriso" para crianças de 3 aos 6 anos antes de escolaridade obrigatória.
As crianças daquele bairro são umas cinquenta. Alguns dias são setenta / oitenta.
Trago o resultado de uma visita pastoral, um porco, alguns sacos de farinha, dois grandes sacos de arroz e dez galinhas!

Tenho de pedir ajuda para levar as coisas!
Eles são os filhos de um dos 19 lugares "Ângulos de solidariedade" da diocese espalhados em vários lugares, todos os formadores são voluntários, algumas mães se revezam porque seus filhos estão lá. Tudo está sob controlo. Eles se auto financiam também para participar.

África, mãe fecunda e bela. Há tanta beleza que escondes e que ninguém conhece, mas podes ser exemplos de "países desenvolvidos", onde tudo é feito ao abrigo da regra de dinheiro, "o que me auto-interessa”, o egoísmo e a arrogância do poder.

A vida ensina-me a ser humilde e atencioso para com os pobres, que "inventa" o futuro.
Eu sei que vocês entendem-me!

Saúdo e abençoo como bispo "Participante" sempre.

+Élio Greselin, Bispo de Lichinga

Moçambique